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Transtornos Alimentares

Dra. Rita Flórido


Nenhum outro transtorno que envolve o corpo é tão ligado ao psiquismo como os Transtornos Alimentares. A alimentação tem vínculo direto com o corpo, com as emoções e com a sociedade que cada indivíduo está inserido. Com o corpo, porque o peso corporal e a silhueta vão depender do que se ingere. Com as emoções porque principalmente a ansiedade leva o indivíduo a consumir mais alimentos; e, com a sociedade porque esta dita a forma corporal que é mais valorizada naquele lugar e naquele momento, atuando como pressão social que idealiza a magreza e tem preconceito contra a obesidade.

A incidência e a prevalência dos Transtornos Alimentares cresceram ao longo da segunda metade do século XX. Esse crescimento deu-se por dois motivos: às pressões culturais nas sociedades industrializadas que enfatizava uma figura feminina esbelta, de formas quase pré púberes e, também a abundância dos alimentos, que passou a ser mais fáceis de serem adquiridos.

Os Transtornos Alimentares são definidos como desvios do comportamento alimentar que podem levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre outros problemas físicos e incapacidades.

São dois os principais Transtornos Alimentares: anorexia e bulimia nervosa, eles fazem o pessoa desenvolver uma relação doentia com a comida - ou empanturram-se com até 15 mil calorias em uma única refeição para depois colocar tudo para fora (caso da bulimia) ou ficam dias sem comer (na anorexia). Os portadores da doença também desenvolvem uma obsessão pela forma física e distorcem a auto-imagem a tal ponto que se sentem gordos mesmo estando com 38 kg. O resultado é a paulatina deterioração física e mental, que começa com sintomas leves como queda dos cabelos até complicações cardiovasculares, renais e endócrinas graves que podem levar à morte.

A anorexia se caracteriza por: “A- recusa a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo normal adequado à idade e à altura (por exemplo, perda de peso levando à manutenção do peso corporal abaixo de 85% do esperado..., B – medo intenso de ganhar peso ou de engordar, mesmo com peso abaixo do normal, C- perturbação do modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influência indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação ou negação do baixo peso corporal atual, D – nas mulheres pós-menarca, amenorréia, ou seja, ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos.” (DSM IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

Temos ainda aqui, o tipo restritivo, onde o indivíduo restringe a alimentação e o tipo comer compulsivo/purgativo, que envolve uma forma de comer compulsivamente e/ou de purgação (auto-indução de vomito) ou uso de laxantes ou diuréticos.

Há traços característicos da personalidade para a Anorexia Nervosa: preocupações e cautela em excesso, medo de mudanças, hipersensibilidade e gosto pela ordem.

O tratamento: raramente procuram ajuda de um profissional por conta própria, limitam-se a queixar-se de sintomas físicos ou psicológicos conseqüentes da inanição, tais como intolerância ao frio, fraqueza muscular ou perda de energia, constipação, dor abdominal e lentificação mental. É aconselhável uma abordagem multidisciplinar: médico, médico psiquiatra, psicólogo (terapia individual e de família) e nutricionista.  Dependendo da gravidade vai exigir internação hospitalar.

Atenção para os índices de recuperação!!!! Cerca de 45% dos pacientes tem resultado bom, cerca de 30% tem resultados intermediários (continuam enfrentando dificuldades), cerca de 25% tem um mal resultado e raramente conseguem atingir um peso normal. De 5 a 10% com anorexia nervosa morrem em conseqüência das complicações.

A Bulimia Nervosa se caracteriza por: “A episódios de comer compulsivo: (1) ingestão, em um período limitado de tempo (por exemplo, duas horas) de uma quantidade de alimentos nitidamente maior do que a maioria das pessoas consumiria durante um período similar e sob circunstancias similares; (2) um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio (por exemplo, um sentimento de incapacidade de parar de comer ou de controlar o que ou quanto está comendo), B – Comportamento compensatório inadequado e recorrente, com o fim de prevenir o aumento de peso, como a auto-indução de vômito, uso indevido de laxantes e/ou diuréticos, e, jejuns ou exercícios excessivos. C – o comer compulsivo e os comportamentos compensatórios inadequados ocorrem em média pelo menos duas vezes por semana, por três meses, D – a auto-avaliação do indivíduo é indevidamente influenciada pela forma e peso do corpo, E – o distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa”. (DSM IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).

Existe o tipo purgativo, onde o individuo se envolve na auto-indução de vômitos ou no uso de laxantes e diuréticos e, o tipo não-purgativo, onde o indivíduo usa outros comportamentos compensatórios tais como jejuns ou exercícios excessivos.

Bulimia vem do grego que significa “fome de boi” o que caracteriza bem o transtorno.

 Os traços característicos da personalidade para a Bulimia Nervosa seriam: Impulsividade, desorganização, preferência pelo novo, fácil desmotivação, extroversão, preocupação com modismos.

O tratamento envolve, também, vários profissionais como médico, médico psiquiatra, psicólogo (terapia individual e de família) e nutricionista.

Os fatores de risco da Anorexia Nervosa e da Bulimia: - Meninas adolescentes e adultas jovens de classe média e média-alta; - Meninas que aspiraram trabalhar em atividades que privilegiam e enfatizam o estado de magreza do corpo (atores, modelos, bailarinas e desportistas); - Ex- gordas ou com excesso de peso que se tornam obsessivas por práticas freqüente de dietas; - História familiar de transtorno obsessivo-compulsivo; - Baixa auto-estima, expectativa de grandes desempenhos (feitos), perfeccionismo, insegurança no relacionamento social, dificuldade em identificar e expressar sentimentos;

É frequente a comorbidade de transtornos alimentares com transtornos de humor, transtornos de ansiedade e dependência química.

Atualmente acha-se em estudo uma terceira categoria comum de Transtorno Alimentar; o Transtorno do Comer Compulsivo ("binge-eating disorder"), na qual os pacientes apresentam episódios de voracidade fágica (episódios bulímicos) mas não  se utilizam de métodos purgativos depois, como acontece na Bulimia Nervosa.

No Transtorno do Comer Compulsivo também não há preocupação mórbida e irracional com o peso e a forma do corpo, assim como acontece na Bulimia e na Anorexia. Estes pacientes são na maioria das vezes obesos e parecem se distinguir de obesos que não apresentam esses episódios de comer compulsivo por apresentarem mais co-morbidade psiquiátrica e pelo fato da obesidade ser de maior gravidade.

É importante os familiares ficarem atentos a quaisquer dos sinais e sintomas descritos, pois, como para a pessoa que sofre do problema isso não é um transtorno ela não procurará soluções por si só.